Cores Vivas

(1980, gravada em Luar, 1981.)

Escolhida por Bela Gil

 

Tomar pé

Na maré desse verão

Esperar

Pelo entardecer

Mergulhar

Na profunda sensação

De gozar

Desse bom viver

Bom viver

Graças ao calor do Sol

Benfeitor

Dessa região

Natural

Da jangada, do coqueiral

Do pescador

De cor azul

Bela visão

Cartão-postal

Sabor do mel, vigor do sal

Cores da pena de pavão

Cenas de uma vibração total

Cores vivas

Eu penso em nós

Pobres mortais

Quantos verões

Verão nossos

Olhares fãs

Fãs desses céus

Tão azuis

Comentário de Gil: "Outra canção composta de encomenda, para a trilha de uma novela [da Rede Globo]. Alguém me ligou e disse: 'Olha, vai ter essa novela, vai se chamar Água Viva, o tema é assim, assim, e vai precisar de uma canção, enfim'.

Um dia eu estava em Salvador, no verão, as pessoas todas tinham saído, eu fiquei em casa e comecei a canção. Eu me lembro que a primeira pessoa que chegou, com a canção já encaminhada, praticamente feita, foi Maria Helena Guimarães; eu estava cantando, ela entrou, sentou, ouviu e disse: 'Ô, que canção linda'. E eu disse: 'Acabei de fazer'.

''Cores vivas' é sobre o encanto de viver e, de novo, como em 'Luar', sobre a sensorialidade; sobre os sentidos captando a beleza da manifestação da vida em todos os seus fenômenos. O Porto da Barra é a sua locação; é como se eu estivesse lá, naqueles fins de tarde em que a gente fica esperando a hora em que o sol se põe atrás da ilha de Itaparica.

O verso 'Cenas de uma vibração total' relaciona a música com a noção de maia, de ilusão da matéria, ilusão da forma, a noção de que não há forma, só há vibração – com o sentido vibrátil da manifestação da vida. Daí eu dizer em seguida, nas linhas finais: 'Cores vivas/ Eu penso em nós/ Pobres mortais/ Quantos verões/ Verão nossos/ Olhares fãs."