TOUCHE PAS À MON POTE

(1985, gravada em Dia dorim noite neon, 1985.)
Escolhida por JP Demasi

 

Touche pas à mon pote

Ça veut dire quoi?

Ça veut dire peut être

Que l’Être qui habite chez lui

C’est le même qui habite chez toi

Touche pas à mon pote

Ça veut dire quoi?

Ça veut dire que l’Être

Qui a fait Jean-Paul Sartre penser

Fait jouer Yannik Noah

Touche pas à mon pote

Il faut pas oublier que la France

A déjà eu la chance

De s’imposer sur la terre

Par la guerre

Les temps passés ont passé

Maintenant nous venons ici

Chercher les bras d’une mère

Bonne mère

Touche pas à mon pote

Touche pas à mon pote

Ça veut dire quoi?

Ça veut dire peut être

Que l’Être qui habite chez lui

C’est le même qui habite chez toi

Touche pas à mon pote

Ça veut dire quoi?

Ça veut dire que l’être

Qui a fait Jean-Paul Sartre penser

Fait jouer Yannik Noah

Il fait chanter Charles Aznavour

Il fait filmer Jean-Luc Goddard

Il fait jolie Brigitte Bardot

Il fait petit le plus grand Français

Et fait plus grand le petit Chinois

Comentário de Gil: “Eu tinha ido ao evento do movimento SOS Racismo, na Place de la Concorde, em Paris, e, lá, sido convidado a (e aceitado) participar da edição do mesmo no ano seguinte, marcada para a praça da Bastilha. Ao voltar ao Brasil – com o slogan deles, o ‘Touche pas à mon pote’ (‘não incomode meu chapa’), na cabeça –, resolvi fazer a canção.

O que faz o Sartre pensar faz o Yannik Noah jogar [Noah: jogador de tênis de origem africana, exemplo de imigrante bem-sucedido na França]. Ou: ‘Como é que vocês, povo da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, se deixam rebaixar por tamanha mesquinharia? Isso é coisa de Hitlers, não de vocês!’ É a exortação da canção à alma francesa, às suas grandes máximas cívicas – recorrendo particularmente ao truque de usar essa entidade tão importante que é o ‘ser’, que diz respeito profundamente à obra de Sartre -, para tocar na questão da intolerância racial.

Meu francês era limitado, mas ainda assim eu quis ousar fazer, e acabei me deparando com essas surpresas que o próprio desdobrar-se da manifestação da poesia acaba trazendo. Essa música é particularmente um típico exemplo de que as deficiências no domínio de uma língua podem ser superadas pela excelência da linguagem. A canção se tornou conhecida na França. Os franceses ficaram admirados de ver que um fenômeno interno deles pudesse ter sido revelado a partir de fora; vários jornalistas me disseram: ‘Mas como que é que você fez?’. ‘Eu fiz’.”